Por: Anabela Quelhas
Não sou jornalista, sou artista plástica que se atreve a mandar uns bitaites utilizando a escrita.
Antes, o mundo de testagem da minha escrita era a net, sou blogueira desde 2006; o exercício da escrita era pontual, sempre com algum feedback positivo dos amigos e foi crescendo de forma espontânea e livre. Um dia o Notícias de Vila Real convidou-me para ser sua colaboradora, aceitei o desafio, e sempre escrevi sobre o que quis, apenas com a limitação do tamanho do texto, que nem sempre cumpro. Registo aqui o meu agradecimento pela oportunidade que me têm dado de escrever semanalmente e isso obriga-me a impor uma disciplina pessoal, que me agrada, me enriquece e me é muito útil. Ter semanalmente um texto para publicar, nem sempre é fácil. Às vezes chego a sábado à noite e ainda estou a zero.
Não sei quem me lê, quantos me leem… gostaria de saber, para perceber se o que escrevo tem impacto nos leitores. Sugiro ao NVR criar um sistema de avaliação pontual, para todos nós, percebermos quem está do outro lado e as suas preferências. Por vezes, em local público, alguém me encontra e aborda simpaticamente, dizendo-me que lê os meus artigos de opinião, ao qual manifesto a minha gratidão, porém, gostaria de encontrar os que me leem com desagrado, para eu poder tomar consciência dos pontos fracos e crescer no mundo da escrita. Raramente escrevo sobre política de impacto diário e a arte é a minha praia, mas divago muito, o tema é decidido em cada semana. Um dia, escrevi “O estranho caso de Sara”, um artigo polémico e encontrei um senhor na Rua Direita, que me abordou e disse, “Sra arquitecta gostei do seu artigo, é preciso escrever mais sobre as pessoas, as suas vidas, os seus medos e os seus sonhos” e eu respondi, “no jornal vários colaboradores escrevem sobre política” e ele rematou “não, não, escrever sobre a vida das pessoas, tentando compreendê-las de uma forma humanizada e de forma que todos os leitores entendam”. Por vezes converto-me em Anita, personagem irónico/cáustica e sei que me divirto e divirto os leitores, tendo por vezes como cenário, assunto sério, combatido com o absurdo.
Há dois anos convidaram-me para escrever em jornal de visibilidade nacional e recusei, porque quero estar aqui, quero chegar ao coração das pessoas do meu território, quero escrever para os leitores que vivem por aqui no nosso habitat, quero criar textos por vezes com mensagens invisíveis de crítica social e política, facilmente identificáveis e porque entendo a importância de um jornal regional. “Primeiro estranha-se e depois entranha-se” (Fernando Pessoa/Coca Cola). Sobre os grandes centros urbanos, e o que acontece no mundo, todos nós temos, na net, e na TV, notícias actualizadas e repetidas ao minuto, porém, a mim interessa-me a opinião de quem aqui vive, os eventos que se realizam e até a fofoca rasteira desta região, que tem como cenário a Onda do Marão. Ser regional, poderia secundarizar, para mim é de facto o mais interessante. Ter público reduzido, vender pouco, por vezes até terão dificuldades financeiras, mas é uma equipa que continua e não desiste. Essa é a resiliência que muito aprecio neste jornal. Depois gosto que me telefonem e digam, “o texto é muito grande” ou “dividimos o texto em dois?” ou “e se mudasse o título para atrair a atenção do leitor?” ou “esta palavra é mesmo assim inventada por si, ou está errada?” ou “bom texto, também penso assim” ou “alguém vai picar!”.
O meu contributo é modesto, mas tenho orgulho em escrever num jornal regional com 25 anos. Felicito os leitores e especialmente todos aqueles que fazem, ou já fizeram parte desta equipa. PARABÉNS!