Não é de hoje que os jornais atravessam uma fase crítica da sua existência. Aliás, toda a comunicação social passa por um período de reflexão e alteração dos modelos de negócio, que tendem a transitar, cada vez mais, para o digital. Mas os jornais são o “parente pobre” da comunicação social e, quando surge uma crise (como a que sucedeu entre 2020 e 2022), são os principais afetados.
Começando pelos jornais nacionais: no início do ano, o preço dos principais jornais diários fixou-se nos 1.50 euros. É o caso do Jornal de Notícias, Correio da Manhã, Público e Diário de Notícias. O preço de capa tem vindo a subir devido ao aumento do custo de produção (salários, gasóleo, rendas, etc.), mas principalmente devido ao preço do papel, que subiu, desde a pandemia, cerca de 100%. Em contraciclo, os jornais possuem menos páginas e estão mais pequenos, em dimensões. O Jornal de Notícias, um grande jornal do Norte do país, chegou a ter mais 100 páginas. Agora, durante a semana, tem quase sempre 32. A crise chega também aos quiosques, os principais parceiros dos jornais na sua comercialização, que veem os títulos a aumentar de preço e as vendas a diminuir…
Mas não são apenas os jornais os principais prejudicados com os aumentos sucessivos do papel, os produtos como o papel higiénico e guardanapos, ficaram mais caros cerca de 50%. Esta subida estará relacionada com a mudança que a indústria está a enfrentar, com o aumento do custo da energia, celulose, químicos, materiais de embalagens, paletes de madeira e logística.
Apesar de os jornais diários nacionais, que possuem maior dimensão, disporem das suas próprias gráficas, a verdade é que o papel e a celulose destinados à impressão, que só podem ser adquirido fora do país, duplicaram face ao preço pré-pandemia. As restantes gráficas, que trabalham com títulos variados, sejam eles diários ou semanários, nacionais ou regionais, têm convertido o seu negócio para a impressão de embalagens, impulsionados pelo crescimento do comércio online.
E assim chegamos aos jornais regionais e locais, o “parente pobre” da comunicação social impressa. A subida do preço de capa tem sido mais “tímida”, nos últimos anos, mas, em grande parte dos títulos, espalhados pelo país, o custo é de, pelo menos, um euro (tal como sucede com o NVR, desde o início do ano). Alguns ainda resistem em atingir este patamar, com receio de perder os leitores, mas a verdade é que o custo de produção e impressão, combinados, subiram muito. Quem lê o jornal não paga, apenas, o papel que resultou da sua impressão, paga toda a produção que lhe é inerente. Já para não falar das taxas de regulação e outros custos específicos da atividade de comunicação social, que são praticamente os mesmos para jornais semanários nacionais, como o Expresso, como para pequenos jornais em concelhos do interior do país, onde trabalham duas ou três pessoas a tempo inteiro.
Aqui chegados, resta apelar à compreensão dos leitores, que assistem a subidas em todos os setores da economia, e pedir-lhes que se mantenham fiéis à imprensa tradicional, para que este território não se torne um “deserto de notícias”, como já acontece em algumas regiões do nosso país.
Filipe Ribeiro