Por: Ribeiro Aires
– A fazer as malas? Cheira-me a viagem. Vamos de férias? Olha que já não é sem tempo. Penso que, até, estamos atrasados. Curioso, não me apercebi de qualquer pesquisa que tivesses feito na net. Estou certo ou estou errado? Mas não interessa se eu estava a dormir e tu acordado, ou se conseguiste enganar-me. O importante é que vamos de férias e, com mala tão grande, quer-me parecer que vamos por mais dias do que é habitual. Não dizes nada?
Elias não dizia mesmo nada. De vez em quando sentava-se. Pensava no que havia de levar.
– Não me digas que não fizeste uma lista. Mas eu posso ajudar-te. Só tens de me dizer para onde vamos, que eu ainda não consegui penetrar no teu pensamento. Fechaste-o bem fechado, qual cofre com um segredo daqueles que ninguém consegue abrir, nem mesmo os ladrões mais sofisticados. Só recorrendo a bomba. Mas descansa que eu não tenho qualquer engenho maléfico capaz de te esmifrar o cérebro. Só se recorresse à Inteligência Artificial ao «chatgpt, ao bing, à albertina. Estes, porém, só sabem aquilo que está escrito na net. É aí onde vão copiar as respostas. Não sei é como se pode processar por plágio um chat desses. Olha, aí é que está a inteligência da Inteligência Artificial. Ninguém lhe chega. Diz ou escreve o que lhe apetece. E responsabilidade? Se quiserem acreditar que acreditem. Se quiserem prender que prendam. Ainda estou para ver o que vai fazer o Trump com ela. Nem quero pensar. O Rui Pinto é que já está engaiolado, senão ainda vendia o Félix para o Alguidares de Baixo a custo zero, que o vendia ao Benfica por 130 milhões. Não dizem que o Benfica deixou de ser águia para ser um tubarão? Então, pode engolir o Félix. Fica “Félix” o Simeone e a rapaziada das bancadas da Luz ficará embriagada. Mas mesmo assim não sei. Já têm o «Diz» Maria, que aprendeu a dar chutos nas garrafas. Deve andar a ler o manual do Sérgio da Conceição. O rapaz, o Félix, achou que tinha o rei na barriga, mas não tinha, até porque o Filipe VI não é fácil de engolir, sobretudo por um rapazinho franzino como ele. É um Félix muito infeliz. Nem a propósito. A falar em futebol, podíamos ir ao Brasil, agora que o mundial das raparigas acabou. Lá já não manda o Bolsonaro, que agora deve ser pastor na Igreja do Reino de Deus ou na Igreja Evangélica, víamos uns jogos do o Botafogo, do Flamengo cujo bairro nasceu a partir de portugueses que ali se instalaram, do Palmeiras, do S. Paulo, do Baía, etc.. Dávamos um alento ao Vasco e à Portuguesa. Mas se não quiseres, eu também aceito Miami. Está lá o Messi que continua a marcar golos que só Deus sabe. Puxa, vida! Elias, Elias, estás a ouvir-me. Puxa, tanto silêncio até doi. Não queres falar, não fales. Isto é gozar com quem está a ver e falar contigo. Mas eu dou-te outra sugestão. Vamos para leste, onde abunda tanto dinheiro como as areias do deserto. Oh! O deserto, o magnífico deserto! Terras onde não abunda o leite e o mel mas o petróleo faz maravilhas!
Elias sorriu e o alter ego rejubilou.
– Eia! Acertei. Ai esse teu sorriso macaco! Tiveste convite do Ronaldo?
Elias acenou negativamente cabeça.
-Oh! Como gostava de estar perto do Ronaldo. Ele é o meu herói. E a Georgina… Tu já viste que ela tira uma fotografia, mostra um bocadinho do rabiosque no Instagram e ganha imediatamente 150 mil euros. Tu podias aprender com ela… tens coxa para isso. E o Luís Castro tem uma mansão do caraças. Somos da Bila… já lhe telefonaste? Levavas-lhe uma lembrança de Bisalhães, para não esquecer as origens e como prova de que somos de cá…
Elias deu uma gargalhada e desembuchou:
– Siiiiiiim. “All to Arábia”.
Eliseu pulou de satisfação.
– Calma. Nem Georgina, nem Ronaldo – esclareceu Elias.
– Não? Vou chorar.
– Neymar! Já lhe mandei um e-mail e ele disse para aparecer. Vai ter um avião privado.
– Não tens brevet.
– Uma mansão com 25 divisões.
– Tem «escravos» para limparem o pó.
– Tem três carros de luxo.
– Eu gostava de me sentar neles.
– Vai ter um salário de €100 milhões anuais, 80 mil euros por cada vitória e €500 mil para promover o país… e, minha mãezinha, é mais do que 11 mil euros por hora.
– E tu? – perguntou ansioso e angustiado. – Sim, tu que esperas?
– Eu?
– Sim… Podes ser camareiro-mor, mordomo-mor, reposteiro-mor, copeiro, se calhar tens jeito para isso. Até podes ser “lambe botas” … no papel de «papagaio verde», desde que te pague dignamente 10% do que ganha ele numa hora. Sê lá o que tu quiseres ou te deixarem ser, mas há uma coisa que tu nunca queiras ser.
– O quê? – Elias parou, deixou de colocar roupa na mala. Levantou-se.
– Camelo. Nem sentido figurado nem no sentido real. É que se te der a sede não vás andar a roncar “al, al, Al Hilal, ai Jesus!”