Estreou no dia 30 de novembro, no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, com lotação esgotada, e chega este sábado, dia 25 de janeiro, ao Teatro de Vila Real. Falamos de “Aurora – Uma epopeia para os tempos modernos” – ópera promovida pelo Coro Lira que retrata uma adolescente, representada por um coro de adolescentes, uma mãe, um pai, os Lusíadas e uma grande aventura.

A particularidade desta ópera deve-se ao seu libreto ter sido elaborado por Eduarda Freitas, natural de Vila Real, de onde também é um dos três compositores responsáveis pela música, o Fernando C. Lapa, a que se juntam Telmo Marques e Tomás Marques. A encenação é de Nuno M Cardoso e a direção musical de Raquel Couto. Conta ainda com os solistas Sara Braga Simões, Job Tomé e um ensemble instrumental. 

O Coro Lira tem sede no Porto, existe desde 2015, e para representar esta “Aurora” conta com 22 adolescentes. Sobre estes, Raquel Couto, diretora musical da “Aurora” e maestrina do Coro Lira, refere que “não foi difícil motivar o grupo para fazer uma ópera, mas é um grande desafio ter um coro infanto-juvenil, com dois solistas profissionais e um ensemble de 6 instrumentos. É muita música e são precisos muitos ensaios”.

Numa altura em que decorrem as Comemorações dos 500 anos de Camões, esta ópera cruza algumas das personagens dos Lusíadas com a vida da “Aurora”. “A Aurora é uma adolescente, aqui apresentada como uma personagem coletiva, com os conflitos e sonhos próprios da idade. E o que quer uma adolescente? Que a deixem no canto, certo? Então, essa palavra canto leva a Aurora para os Cantos dos Lusíadas, onde se cruza, por exemplo, com o Adamastor, o Velho do Restelo e a Calíope, não tal e qual como estão escritos da obra de Camões, mas adaptados aos nossos tempos”, conta Eduarda Freitas, autora do libreto, e que neste ano de 2025 se prepara para estrear a sua terceira ópera.

“O que é que as pessoas vão ver com esta Aurora? Para mim a Aurora é uma relação entre o sonho e a realidade. A Aurora mergulha nos seus sonhos, no que deseja, ambiciona, quer, e através de uma aventura que faz, vai conseguir amadurecer e descobrir como vencer o medo e assim poder realmente atingir o que sonha”, refere o encenador Nuno M Cardoso. 

A ópera está dividida em 10 cantos, cerca de 70 minutos de música. Para os três compositores, escrever a “Aurora” a seis mãos, foi uma epopeia, mas sem grandes percalços.

“Não foi nada complicado. Depressa ficamos de acordo. Procurámos os blocos lógicos da história, em termos de narrativa, de carácter das cenas, de personagens em ação, de perspetiva de tratamento musical. O texto é muito sugestivo, balançando bem os dados do problema, Aurora e os pais. A “inesperada” presença dos Lusíadas acrescenta dramatismo e expressividade. Diria que o libreto equilibra muito bem todas as coisas. O dado talvez mais desafiante é a Aurora ser representada pelo coro”, conta Fernando C. Lapa, compositor natural de Vila Real, com um enorme trabalho reconhecido nacional e internacionalmente.

Já Tomás Marques concorda e complementa a ideia: “Não houve uma decisão conjunta sobre uma corrente musical específica. Tivemos uma ou outra reunião, mas cada um teve liberdade total para compor como achou melhor. O texto, no entanto, foi o elemento que nos unificou. A narrativa e o ritmo do libreto ajudaram a alinhar as nossas composições, mesmo com as variações estilísticas. O resultado é uma epopeia moderna, com uma paleta sonora rica e variada, também proporcionada pela instrumentação, já que nos abre outras possibilidades, como por exemplo escrever para uma guitarra elétrica. Estes são sinais dos tempos modernos, nunca esquecendo o passado, evocando-o sempre que necessário.”

Também para Telmo Marques, escrever a Aurora foi um processo criativo natural: “Para mim é quase natural escrever música para as palavras porque ela já se encontra nas próprias palavras.”

A ópera “Aurora” tem o apoio da DGARTES, numa coprodução entre o Coro Lira, os teatros de Matosinhos, Bragança e Casa das Artes de Famalicão, com o apoio da ESMAE e da Academia Valentim de Carvalho.