Por: AF Caseiro Marques
O Presidente da República está bastante diferente daquele Marcelo que os mais velhos conheceram, principalmente os que acompanharam o seu percurso profissional e político e acima de tudo como agente da comunicação social, designadamente quando foi director do jornal Expresso.
Quem o conheceu bem, nesse tempo, foi Francisco Pinto Balsemão, o fundador daquele jornal e, posteriormente, Paulo Portas quando fundou e dirigiu o jornal Independente. Não vale a pena repetir porque digo isto, pois as histórias estão contadas em livro ou em entrevistas nos outros meios de comunicação social.
Não tive Marcelo como professor na Faculdade de Direito, pois na altura, 1972, quando ingressei na Faculdade de Direito de Lisboa, tive como professor o Dr Rui Machete. Marcelo era assistente noutra turma.
Mas, como aqui já referi pelo menos uma vez, quando Marcelo desempenhou as funções de director do Expresso, eu, que era um leitor semanal deste jornal, a certa altura, reagi e deixei de comprar o jornal. Porquê? Pelas diatribes que Marcelo já utilizava e em que se havia especializado. Numa semana, escrevia uma coisa sobre um assunto e, na semana seguinte, se ele o entendesse, escrevia sobre o mesmo assunto, mas dizendo coisas diferentes. Ou, então, começava a escrever o seu editorial e, repentinamente, terminava sem concluir ou virando a conclusão para direcção que lhe parecia melhor, conforme os objectivos que tinha em mente. Que ele manobrava a seu bel-prazer a escrita e dizia uma coisa e logo de seguida o seu contrário, com algumas inverdades pelo meio todo o mundo sabe. Voltei a comprar o Expresso quando Marcelo saiu de director e até hoje continuo a ler este jornal fielmente, apesar de nem sempre concordar com a sua linha editorial. Safam-se alguns bons colunistas.
Vem esta introdução a propósito da última estocada de Marcelo no Governo de António Costa. Claro que, na minha opinião e na de muitas pessoas, com toda a razão. Estou a falar do diploma que o Governo aprovou para corrigir a progressão dos professores na carreira e recuperação do tempo de se serviço. Marcelo tem razão nos fundamentos que invoca. E não apenas no respeitante à educação, mas, como afirma, também na carreira dos médicos, quando diz que nestes dois sectores da política e da governação, estes dois pilares são fundamentais. Assim como é verdade que, embora o Partido Socialista venha, desde há mais de vinte anos, enchendo a boca sobre a educação e a saúde, tudo tem feito, não digo intencionalmente, mas por negligência grosseira para deitar abaixo estes dois sectores essenciais a um estado moderno, organizado e saudável quer do ponto de vista da saúde física, quer da saúde e riqueza cultural dos cidadãos.
Por isso, bem andou Marcelo ao vetar esta legislação aprovada pelo Governo a respeito dos professores que sempre estiveram abertos a recuperar o tempo de serviço paulatinamente. É claríssima a inconstitucionalidade da discrepância entre o que se passa com os professores das ilhas e a dos professores do continente. E Marcelo tem razão quando diz que as carreiras destes profissionais devem merecer uma atenção especial em relação a outros funcionários do Estados. E tanto tem razão, que o Governo já lha veio dar. Hoje, Sábado, ainda não se sabe quais as alterações que o Governo vai introduzir no Decreto-lei. Logo se verá.
Claro que, com a matreirice que se lhe conhece, Marcelo sabe bem quando desferir os golpes que, de vez em quando, gosta de aplicar. E sabe muito bem que Costa não está em condições de abandonar o Governo, depois de tudo o que tem dito e da situação em que Portugal se encontra. Daí que tenha aproveitado este momento para colocar os pontos nos ii a António Costa pelo menos em relação a estes dois sectores da governação. Mas Marcelo que se cuide, pois Costa sabe mais de política e é ainda mais matreiro do que ele, embora não lhe interesse entrar ainda mais em conflito com o Presidente.
1 – JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE. Não pense alguém que sou contra a realização da Jornada da Juventude, por aquilo que escrevi a propósito das declarações do Bispo Amério de Aguiar. Mantenho os comentários que fiz. Fico admirado com os que dizem ser crentes, ou não, mas se afirmam não religiosos, contudo, gostam muito do Papa Francisco, de Frei Bento Domingues, do Cardeal Tolentino Mendonça, do frei Ventura, do Cardeal António Marto. Mas se gostam, em que medida o que eles dizem ou escrevem, os toca no fundo da alma e os leva a acreditar na Mensagem Evangélica? Gostam do encontro humano, da solidariedade, da ecologia? Eu também, mas ser crente ou religioso é muito mais do isso. E porque não admiram o trabalho de milhares de missionários anónimos que, na imensidão das florestas ou no silêncio dos desertos, iluminam a vida e os caminhos dos mais desprezados, em tantos países onde permanece a miséria e a perseguição? Quanto aos gastos, os críticos esquecem que foi recuperada para o futuro uma zona degradada. E o que faz, de concreto, cada um dos críticos para acabar com a pobreza económica, social e cultural dos indigentes e dos pobres? Porque criticam, mas admiram as belas catedrais e obras de arte de cariz religioso? Esquecem-se que foram criadas para honrar a Deus, que merece ser glorificado, louvado, celebrado com dignidade? A mesma dignidade que se exige a um acontecimento como a JMJ?