Por: Ribeiro Aires
Vila Real viveu na última sexta feira a sua jornada mundial da juventude ao receber, além de peregrinos portugueses, cerca de 800 jovens, oriundos de vários países da Europa, – Espanha, França, Itália, Polónia -, América – México, Colômbia, Canadá -, Ásia – Filipinas, Nepal e Coreia do Sul -, e África – Angola e Tunísia. Julgo nunca Vila Real ter tido, de origens diferentes, tantos jovens juntos num único espaço – igreja de Nª Sª da Conceição, Avenida Carvalho Araújo e Parque Corgo – unidos na mesma comunhão de espírito cristão.
A missa cantada e dita em português, aqui e ali com apontamentos em francês, italiano, espanhol e alemão, teve um momento de maior emoção no ofertório, quando o grupo de Angola trouxe outra virtualidade à celebração com os seu cânticos em língua nativa, dando ênfase à expressão do Papa Francisco «A alegria do Evangelho» .
Antes, no espaço exterior o entusiasmo e a alegria eram transbordantes nas danças improvisadas ao som de música que acompanhava um ou outro grupo. Com eles, embora não com todos, agitavam-se as bandeiras nacionais que os identificavam.
Estes jovens já por cá andavam há uns dias, nas nossas vilas e aldeias, em comunhão com as comunidades locais, participando em diversas atividades, ao mesmo tempo que davam vida a aldeias, partilhando vivências.
Estes jovens não vieram só por vir, só por oportunidade, que não é (foi) de descurar – alguns saíram pela primeira vez do seu país. Porque são jovens, têm à sua frente uma vida com ocasiões para poderem sair da terra onde nasceram. Vieram porque devem ter sentido que deviam partilhar aquilo que sentem e que representam como futuro da Igreja. Vieram porque há uma fé que os move. Quem não tem fé em Cristo, não se dará ao trabalho de fazer esta (ou outra semelhante) viagem. Só se vive aquilo que se quer viver.
Cada um veio, em primeiro lugar, por si. Em segundo lugar, pela sua comunidade ou grupo. Em terceiro, pelo Papa. E, juntos, vieram pelo elo entre os povos. Vieram para mostrar que há lugar para a mensagem cristã e para contrariar o que muitos auguram, que o cristianismo – a religião, enfim – está em declínio, tende a desaparecer, face ao crescente secularismo da sociedade, à decadência de valores e da prática religiosa.
Cada Papa tem o seu carisma. Cada Papa tem o seu «charme», a sua força de atrair, de consensualizar. Cada Papa tem a sua mensagem evangélica, tem o seu olhar sobre a Igreja, sobre o Mundo e forma de intervir. O Papa Francisco, que veio do outro lado do Atlântico, onde as realidades político-sociais são outras, «deseurocentrou» a Igreja, gerou a ideia da sinodalidade, do «caminhar juntos» que inclui todos, mesmo aqueles que foram antes marginalizados, concorde-se ou não com a amplitude do conceito.
Estes jovens fazem parte deste caminhar juntos. Usam, nesta jornada, a mesma camisa branca e só a linguagem – e nem sempre – os distingue. Se a Igreja precisa de um Papa que seja capaz de fazer ruturas, embora dentro da substância do cristianismo/catolicismo, também precisa desta juventude atuante, que leve a bandeira deste mesmo cristianismo, da mensagem evangélica, um tanto esquecida (por cada um de nós). O mundo precisa de se reconstruir, mas nunca o fará sem o cristianismo, com ou sem jornada mundial da juventude.