No início da Quaresma dirijo-me a todos vós, irmãos diocesanos de Vila Real, convidando-vos a viver de forma mais intensa e espiritual este tempo de preparação para a Páscoa. Em ano jubilar, ano especial de graça, façamos a experiência de verdadeiros «peregrinos de esperança». Durante estes 40 dias até ao tríduo pascal, caminhemos com os pés bem assentes na realidade complexa do presente, mas com o olhar colocado em Jesus e na sua cruz e as mãos prontas para trabalhar em gestos concretos de proximidade e partilha.

A liturgia de cinzas lança-nos um forte convite: «Convertei-vos e acreditai no evangelho». É importante que cada um tenha consciência da urgência deste apelo e se disponha a dar uma resposta decidida. Não basta repetir rotinas ou cumprir o calendário ou a tradição. O desafio é deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e, com a luz da Palavra de Deus, operar uma autêntica conversão que faça de nós criaturas renovadas à imagem de Cristo, verdadeiros filhos de Deus, batizados no seu Espírito.

A nossa diocese tem como lema deste triénio: «Caminhar juntos, renovar a esperança». Esta quaresma representa uma grande oportunidade na realização deste propósito. Para isso deixemo-nos inspirar pelo que o Papa Francisco disse na sua mensagem quaresmal: «Caminhar juntos significa caminhar lado a lado, sem pisar ou subjugar o outro, sem alimentar invejas ou hipocrisias, sem deixar que ninguém fique para trás ou excluído. Sigamos na mesma direção, rumo a uma única meta, ouvindo-nos uns aos outros com amor e paciência».

No caminho quaresmal deste ano é necessária, sobretudo, uma séria conversão à esperança. Num contexto de dúvidas e receios, não podemos ceder ao pessimismo ou resignarmo-nos ao desânimo ou fatalismo. Numa era de desconfiança em que a sociedade se aglutina mais facilmente em torno da indignação do que da esperança, urge redescobrir a novidade da esperança cristã.  Como lembrava Bento XVI, «Precisamos de esperanças que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir» (Spe Salvi, 31). Cristo é a fonte da nossa esperança. A sua cruz é o grande sinal de uma esperança nova que se abre para toda a humanidade.

Neste tempo faz-nos bem meditar na experiência feita pelo Povo de Deus ao longo daqueles 40 anos de travessia do deserto. A dureza do caminho foi confortada pela confiança em Deus e pelo sonho da terra da promessa. Iniciemos este caminho quaresmal reavivando o nosso sonho de um mundo mais livre e pacífico, acordando de alguma letargia e distração para a urgência de um compromisso sério na busca de um mundo mais justo e solidário.

O caminho quaresmal é caminho de conversão e implica a tomada de consciência do pecado. Ela leva-nos a assumirmos, como pessoas e como sociedade, todas as ações e palavras contrárias à vontade de Deus e danosas à nossa vida e à dos nossos irmãos, à vida da sociedade e do planeta. Neste tempo redescubramos a beleza do Sacramento da Reconciliação, sacramento de perdão dos pecados, sacramento da cura e da paz interior. Na Bula «Spes non confundit» o Papa Francisco escreveu que: «a reconciliação sacramental não é apenas uma estupenda oportunidade espiritual, mas representa um passo decisivo, essencial e indispensável no caminho de fé de cada um».

A oração é um exercício fundamental para todo o cristão e deve ser intensificada na quaresma. Ela constitui uma grande escola de aprendizagem da esperança. Na oração pessoal ou comunitária, escutando e dialogando com Deus, aprofundamos a sabedoria da fé e pacificamos os nossos corações. Convido a todos a reforçarmos as orações pela paz no mundo e pela saúde do Santo Padre.

Recordo ainda a importância e atualidade dos exercícios quaresmais do jejum e da esmola. São práticas que se revestem de grande significado para o fortalecimento da nossa fé. Precisamos de jejuar de tudo o que faz mal à nossa saúde física e espiritual, do que nos distrai do essencial, do que perturba a vida pessoal, familiar ou eclesial.

Por fim, lembro que as ofertas da renúncia quaresmal se destinam à Cáritas Diocesana, para apoio a projetos de auxílio a reclusos e a famílias mais carenciadas, algumas delas famílias imigrantes. Apelo à generosidade e ao sentido de partilha de todos.

Uma Santa Quaresma. Com Cristo caminhemos na esperança.

Vila Real, 3 de março de 2025

+António Augusto de Oliveira Azevedo

Bispo de Vila Real

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