Por: Anabela Quelhas
Marcelo trava a loucura do diploma sobre as progressões na carreira dos professores criado pelo PS, que evidencia desigualdade sobre desigualdade. O diploma chumbou. Finalmente apresenta-se um rasgo de lucidez! O PR percebeu que esta luta não é para parar e que o diploma está cheio de contradições, beneficiando uns e prejudicando outros.
Há uma cegueira colectiva e propositada, por parte do Ministério de Educação, acerca dos professores, a sua luta e também sobre a Educação – cegueira perigosa e contagiante.
Recomendo que o ME se aplique e utilize o que exige dos professores, há um leque de medidas que ajudarão a apurar a lucidez e o sucesso… há para todos os gostos; medidas universais, medidas selectivas e medidas adicionais. Se estas não chegarem, inventem outras. Os docentes sabem a que me refiro.
Foquem-se na diferenciação, nas acomodações, no enriquecimento, na promoção, na intervenção… o apoio, a antecipação e o reforço… nas adaptações, nas metodologias e nas competências.
Os professores entraram no seu período de férias, alguns já com a promessa da “casa às costas”, outros desencantados com a Escola, a falta de reconhecimento acerca do seu trabalho, prejudicados pela avaliação por cotas, que desenvolve sentimentos de frustração, revolta e de desistência. Trabalhar bem, assegura uma boa avaliação, mas depois esta reduz-se perante o número de cotas disponíveis. Esta avaliação em vez de ser uma alavanca, um factor para melhoria da aprendizagem, funciona inversamente. Um professor desmotivado é o pior que pode acontecer no processo de ensino-aprendizagem.
Em Setembro cá estarão de novo, preparados para mais um ano a lutar pelo que lhes é devido, desmotivados, mas resilientes.
Aquela verborreia de que se encerra definitivamente o processo de recuperação do tempo em que as carreiras docentes estiveram congeladas, não passa disso, porque não é o Primeiro Ministro, quem determina a satisfação dos professores, nem a orientação das suas lutas.
Era o que mais faltava!
O argumentário dos Costas tem sido um falhanço total, nem apelando e vitimizando-se com os cartoons suínos se safaram. Em vez de valorizarem a carreira docente, atenderem às suas justas reivindicações de forma gradual, optaram pelo oposto, e sempre confiantes, porque não há exigência de retroativos. Assim, cada mês que passa, sem qualquer acordo, são uns milhões do lado de lá, tão úteis para o jogo dos aeroportos, para os palcos do Papa, para o optimismo do FMI e para os inúmeros buracos financeiros que têm vindo à tona.
O Costa Primeiro, com a maioria obtida nas eleições, está a afogar-se na sua habilidade negocial, e a esganar a sua própria inteligência. Agora percebemos que o governo sempre teve um plano B, e por isso, aprovou secretamente as alterações ao diploma do Governo sobre a progressão da carreira dos professores, logo no dia seguinte ao veto, sem consultar sindicatos. Nenhum professor conhece o novo documento. Incrível. Cheira-me a mais uma habilidade espertalhona. O governo vai empurrando o problema com a barriga, até a barriga estourar. E vai estourar mais cedo ou mais tarde. A luta dos professores é a ponta do icebergue, tem escondido os reais problemas da ESCOLA PÚBLICA, que mexem com toda a sociedade – é urgente ser repensada, ajustada e melhorada.
A sociedade mudou, a Escola foi a rasto, e as páginas excell já não enganam ninguém.
A Escola Pública está saturada de experiências, que já foram rejeitadas por outros países. Ainda não percebi, aqui o tempo deve ter outra velocidade; poderíamos transformar esse constrangimento em oportunidade, para não repetirmos erros já cometidos pelos outros, mas não, o Ministério da Educação apenas aproveita o refugo dos outros, avançando cegamente para a catástrofe. A Educação continuará a problematizar-se.