Em Granja, Parada de Cunhos, um atelier de costura, composto por cinco mulheres e um homem, está a costurar incessantemente, desde meados de abril, mais de duas dezenas de trajes originais, adornados com a história e tradição da freguesia, relacionada com a extração de barro para a produção de telhas, para as Marchas de Santo António, em Vila Real.
Os trajes, que serão envergados por mulheres, homens e crianças na noite de 12 de junho, estão a ser ultimados na antiga escola primária da aldeia da Granja, “onde tudo se arranja”, antes de desfilarem Avenida abaixo, ao som de uma música que também foi preparada a preceito.
A verdade é que a história da confeção dos vestidos para as marchas populares, pelas mãos de Clementina, Cecília, Francisca, Benvinda, Beatriz e António, confunde-se com o projeto “Dress a Girl Around the World”, que tem como missão fazer vestidos à medida para jovens carenciadas em África.
“O atelier de costura solidário foi criado em julho passado, depois das marchas. Eles (os participantes) ficaram tristes porque o seu trabalho tinha chegado ao fim. Foi aí que falei com a dinamizadora do projeto Dress a Girl Around the World em Vila Real, que está afeto à Cruz Vermelha, que ajudou a criar aqui este atelier”, contou Paula Teixeira, presidente da Junta de Freguesia de Parada de Cunhos, que promoveu a iniciativa.
Ao longo do ano, o grupo reúne “uma ou duas vezes por semana” para preparar os vestidos que têm como destino as comunidades pobres de países africanos, mas quando estão na preparação para as marchas, “chegam a juntar-se quase todos os dias”.

Roupa das marchas inspirada na tradição

Neste ano, o tema da marcha da freguesia é inspirado nas telhas que eram produzidas com barro que saía do lugar da Telheira, em Parada de Cunhos, e que tinha como destino a Cerâmica de Vila Real. “Nós fomos buscar essa tradição ancestral, que já se perdeu. Hoje, poucas pessoas sabem a razão pela qual aquele lugar se chama Telheira”, acrescentou Paula Teixeira.
O trabalho de costura começou mais cedo, em abril, pelas mãos de António Aguiar, antigo comerciante, hoje aposentado. A arte da confeção está nas mãos deste residente, que conta que há cerca de cinco décadas, quando era jovem, trabalhou com o irmão durante algum tempo como alfaiate. “Foi durante pouco tempo, mas nunca mais me esqueci”, contou.
Nesta fase, o trabalho é distribuído pelos restantes elementos. Desde os laços, aos remates das saias, entre outros adornos, “não lhes falta o que fazer”. “Eles fazem tudo. São estilistas, designers, alfaiates… e todos os trajes são feitos à medida para cada participante. A verdade é que serem as pessoas da freguesia a fazer os seus trajes tem outro significado”, sublinhou a autarca.
Em junho, volta a cumprir-se a tradição das marchas, com tecidos reaproveitados de edições anteriores e que dão vida a vestidos, coletes, calças e outros elementos. Ao mesmo tempo que promovem a cultura e dinamizam a tradição, este grupo mantém ativo um edifício que recebeu, ao longo de décadas, jovens aprendizes da aldeia.

As Marchas em Vila Real

Descem a Avenida Carvalho Araújo, em direção à Praça do Município, todas engalanadas e cheias de brio, as cerca de 20 Marchas de Santo António que, na noite de 12 de junho, vésperas do dia consagrado ao santo popular, levam milhares de foliões ao centro da cidade.
A Câmara Municipal leva a cabo mais uma edição das Marchas de Santo António, depois de em 2014 ter terminado com um interregno de cinco anos, contanto com a participação e mobilização das freguesias e associações culturais do concelho. Durante a pandemia de Covid-19, as marchas não se realizaram, excecionalmente, por questões sanitárias.
As Marchas de Santo António são uma tradição que se afirma em Vila Real e atrai um número cada vez maior de locais e turistas à procura dos momentos que aliam a música popular e a gastronomia, tão típicos das festas dos Santos Populares, durante todo o mês de junho.

Filipe Ribeiro