A pegada do Papa Francisco

Fruto do Concílio Vaticano II, vindo do terceiro mundo e por isso marcado pela Teologia da Libertação, que mudou o rosto da Igreja, principalmente na América do Sul, o cardeal Bergolio, depois Papa, que adoptou o nome Francisco, em homenagem a S. Francisco de Assis, deixa uma marca indelével em toda a Igreja Católica e em todo o mundo cristão e não cristão. Francisco entrou em mesquitas, era amigo do Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb com o qual assinou uma declaração conjunta recordando que Deus “criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e chamou-os a conviver entre si como irmãos”. Era amigo do Patriarca Ecuménico Bartolomeu, o dirigente da Igreja ortodoxa e com o qual desejava encontrar-se proximamente, a propósito da comemoração dos 1.700 anos do Concílio de Niceia, realizado em 325 DC. Falou com muçulmanos, hindus, budistas, evangélicos e ortodoxos.

Afrontou os grandes deste mundo, questionando-os sobre as suas decisões políticas e apontou caminhos. Chamou a atenção do mundo para os refugiados e imigrantes, presos e outros deserdados da sorte.

Criticou os promotores de guerras e outros conflitos bélicos, que se desenrolam em todo o mundo, independentemente de as vítimas serem ou não cristãs.

Não se esquivou a escancarar as feridas da Igreja, procurando curá-las e corrigindo rumos nessa e noutras áreas.

Deixa um legado doutrinário plasmado em diversos documentos que constituirão uma orientação para todos os católicos durante muitos anos, tais como as Encíclicas “Fratelli Tutti”, “Laudato Sí” e a Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, para além de muitos outros documentos, homilias, entrevistas e mensagens.

A caminhada sinodal que encetou e desenvolveu ao longo do seu pontificado abriu uma caixa de Pandora, que assustou e ainda assusta muitos dos poderes instalados dentro da instituição católica, nomeadamente ao nível de alguns dos seus máximos responsáveis, bispos e sacerdotes, ciosos dos seus direitos, regalias e poderes e com dificuldade em os partilharem com todo o povo católico.

Deixou doutrina, palavras e mensagens, apontando caminhos com o seu exemplo de vida e de acção concreta como dirigente máximo da Igreja Católica.

O seu testemunho de humildade, ao apresentar-se como um servidor, sem pompa e sem adereços desnecessários, porque faustosos ou indiciadores de um certo sentido de autoridade, à imagem de Francisco de Assis, diz bem do seu entendimento sobre o significado e imagem do Papado, à luz do Evangelho pregado por Cristo há dois mil anos.

Os católicos sabem que a Igreja é Mãe e Cristo ressuscitado é Seu Irmão, por isso, não se sentem desamparados.

Contudo, a partida, de alguma forma esperada, do Papa Francisco cria no povo católico um certo sentimento de orfandade, dada a marca que deixou na Igreja e em todos os católicos, ao longo do seu pontificado.

Que venha substituí-lo quem consiga manter este legado do Papa Francisco, que o traçou pela sua palavra, a sua doutrina e principalmente através do seu exemplo e do modo como transmitiu a necessidade de os responsáveis pela Igreja sentirem o “cheiro das ovelhas”, a proximidade com elas e que esse seja daqui para a frente o mote e o sentido de toda a vida eclesial.