Por: Filipe Ribeiro

A recente ameaça da VASP de deixar de distribuir imprensa escrita diária em oito distritos (Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança) gerou uma onda de preocupação, interpretada quase como o prenúncio do fim dos jornais no interior do país.

A VASP detém o monopólio da distribuição dos jornais diários nacionais (ou semanários, como o Expressou ou o Sol) e de parte da imprensa regional, praticando taxas elevadas para quiosques e editores. Contudo, uma parte significativa da imprensa local e regional assegura a sua própria distribuição nos quiosques (como é o caso do Notícias de Vila Real), para a venda direta em banca. Já no que respeita às assinaturas, a expedição é feita pelos CTT, com apoio do Estado. A questão, portanto, não é se os jornais vão desaparecer do interior, mas como reorganizar a sua distribuição num território onde o modelo aplicado a todo o país já não funciona.

Em locais onde a VASP já não chega, há soluções que mostram como os concelhos se têm vindo a adaptar. Em Alcoutim, no Algarve, a inexistência de quiosques levou, em 2024, à criação de um ponto de venda na biblioteca municipal. Ali chega, diariamente, uma dezena de títulos nacionais, de segunda a sexta-feira, e os exemplares que sobram são encaminhados para instituições sociais, um serviço público garantido localmente pelo próprio município.

Alcoutim não é, infelizmente, caso isolado: municípios de baixa densidade como Vimioso, Freixo de Espada à Cinta ou Marvão já vivem sem acesso regular, em banca, à imprensa diária em papel. O encerramento de quiosques nestas localidades é anterior à ameaça da VASP e revela algo mais preocupante: em muitos pontos do país, manter um local de venda é economicamente inviável devido ao reduzido número de exemplares vendidos. Noutras regiões, onde os quiosques ainda subsistem, o modelo de negócio alterou-se: a venda de jornais tornou-se residual face às raspadinhas e a outros produtos com maior procura e margem de lucro. Mas, apesar de tudo, continuam a vender jornais.

É inegável que a circulação de jornais impressos contribui para a literacia mediática. No entanto, o acesso à informação já não se esgota nas páginas de papel. A imprensa nacional e regional está hoje disponível em múltiplas plataformas e formatos. A televisão e a rádio continuam a ser meios democráticos, de fácil acesso e com forte penetração. E para quem não está conectado, sobretudo as populações mais idosas do interior, o acesso à informação em papel continua a ser garantido através da assinatura de jornais. Para essas comunidades, faria mais sentido criar incentivos à assinatura do que subsidiar uma logística ineficiente – tal como já acontece com os jovens dos 15 aos 18 anos, que podem assinar gratuitamente jornais e revistas digitais.

É verdade que ler jornais é fundamental para fortalecer cidadãos informados. Mas também é verdade que o país não está deserto de alternativas informativas, nem a democracia depende exclusivamente da entrega de diários pela VASP. O risco que enfrentamos não é a retirada de um operador logístico: é a erosão dos leitores. Sem leitores, não há jornais. E sem jornais, em qualquer formato, a democracia e a cidadania empobrecem.