No dia de Páscoa, sobretudo no norte do país, ainda perdura a tradição da saída às ruas da Visita Pascal, ou Compasso Pascal, como é popularmente denominado, para anunciar de casa em casa, segundos os relatos bíblicos, a Ressurreição de Jesus Cristo.
Noutros tempos, era ocasião para o pároco visitar as casas da área eclesiástica ao seu cuidado, recebendo a “côngrua”, um contributo monetário dado pelos habitantes para fazer face às despesas que o sacerdote tem no exercício das suas funções em cada paróquia. Tal situação, levava a que, em muitas aldeias, houvesse a necessidade de repartir a Visita Pascal entre o Domingo de Páscoa, o dia seguinte, Segunda-feira de Páscoa e o domingo seguinte, o chamado Domingo de Pascoela.
Nos dias de hoje, dada a falta de sacerdotes para atender a todas as paróquias das dioceses, e a idade avançada da maioria, levou a que deixassem de acompanhar a equipa que percorre as ruas, delegando nos leigos essa tarefa.
Mesmo já não havendo a necessidade de repartir a Páscoa pelos vários dias, ainda há, no concelho de Vila Real, algumas aldeias que não abdicam do dia que a tradição sempre lhes confiou, a Segunda-feira de Páscoa.
O Notícias de Vila Real deslocou-se às aldeias de Muas, Arnal, Galegos da Serra, Ramadas e Agarez, situadas na encosta da serra do Alvão, na freguesia de Vila Marim, para ouvir os testemunhos de quatro habitantes.
Há uma equipa que faz a Visita Pascal em três dessas aldeias, iniciando logo pela manhã em Muas, seguindo para Arnal e terminando, ao final da manhã, em Galegos da Serra, de onde são naturais. São netos de Alcina, que orgulhosamente contou como se vive este dia na aldeia, reforçando a antiguidade da tradição e a vontade de que não acabe.
Apesar de o pároco não integrar diretamente, desloca-se a cada aldeia, durante a manhã para fazer uma celebração nas capelas, no final da passagem do “Cristo Ressuscitado” por todas as casas, seguindo a ordem descrita anteriormente. Dores, de Arnal, recordou que a população se reúne junto da capela para participar na celebração, confessando que ainda há uma boa adesão a esta tradição católica nesta zona do concelho, sendo também uma forma de promover o convívio familiar durante o dia, regressando no final a suas casas.
Neste dia, apesar de não ser feriado e constar como dia de trabalho, nestas aldeias é certo que o dia está sempre marcado no calendário como dia de Páscoa.
Ramadas, outra das aldeias que mantém a tradição viva, também acolhe a Visita Pascal no período da manhã, algo que já acontece há mais de 60 anos. Quem o diz é Celeste, habitante da aldeia que também mostrou entusiasmo ao partilhar como tudo funciona.



Em Agarez, o Compasso Pascal é realizado durante a tarde. Conceição explicou que são organizados dois grupos que partem do largo da capela em direções opostas, cobrindo toda a área da aldeia.
A habitante revelou que este dia se traduz numa festa comunitária, dado que as pessoas, depois da passagem do “Cristo Ressuscitado” pelas suas casas, vão seguindo atrás das equipas, reunindo-se novamente no largo, no final da tarde, para em comunidade participarem na celebração de encerramento.


Apesar de existirem alguns populares que começam a aceitar uma possível mudança para o Domingo de Páscoa, a maioria continua a manifestar-se a favor da manutenção da tradição de celebrarem a Páscoa na segunda-feira.