Cada Natal está cheio da novidade de Deus. A novidade maior é a revelação do rosto humano de Deus que se manifesta em Jesus nascido em Belém. Por isso, sem desvalorizar as tradições desta quadra, apontemos o olhar e abramos o coração àquele que é o centro desta festa, Jesus, o Filho de Deus feito homem.
O Natal tem um rosto concreto e real: o rosto de Jesus que se apresenta no presépio. O quadro do menino acompanhado por Maria e José, rodeado por simpáticos animais, visitado por anónimos pastores e curiosos magos, não pode deixar de nos encantar. A simplicidade do divino presente no humano é sempre capaz de suscitar grande atração e fascínio.
A tradição do presépio, criada por São Francisco de Assis há oito séculos, é das que melhor traduz o espírito do Natal. Ele ajuda-nos a reconhecer o contexto concreto que rodeou o nascimento de Jesus. Os presépios feitos em igrejas ou em nossas casas, em locais públicos das cidades, vilas e aldeias, alguns em estilo mais popular, outros em linguagem mais artística, proporcionam sempre uma experiência única de contemplação e exaltação do lado humano de Deus.
A descoberta desse rosto humano de Deus patente em Jesus conduz-nos à urgência do reconhecimento do divino que existe em cada rosto humano. O Natal é uma lição incomparável de humanidade porque nos convida a olhar o rosto de cada pessoa e reconhecer nele uma beleza única. Do rosto terno da criança ao rosto cheio de rugas de um idoso, em cada um identificamos uma vida, uma história, vislumbramos um mistério onde coexistem sonhos e feridas. Em cada um transparece o caráter sagrado da vida humana. Cada rosto tem a marca de Deus.
Se cada pessoa transporta esse sinal do divino não podemos deixar de valorizar a sua dignidade e respeitar todos os seus direitos. Esta é a condição básica da convivência social e o antídoto contra todas as formas de desumanidade, indiferença e ódio. O reconhecimento do outro como pessoa e como irmão é, aliás, a base para construir uma paz autêntica que não se limite a desejo piedoso ou palavra inconsequente. Uma paz que se assume como valor essencial, confirmado no compromisso em construir pontes de diálogo e em renunciar a qualquer forma de violência, seja a dos Estados prepotentes ou a dos radicais fanáticos, seja a violência sobre as mulheres, os idosos ou as crianças.
A mensagem do presépio, lugar onde Deus se une à nossa humanidade, apela ainda à necessidade de cuidar dos mais frágeis. A celebração do Natal em que cantamos a glória de Deus que veio habitar a carne humana, impele-nos a assumir a tarefa de acolher e cuidar da fragilidade humana em todas as suas formas. A fragilidade que se manifesta nas crianças recém nascidas, nos doentes, especialmente da área da saúde mental ou em estado terminal, nos idosos com mais limitações. O espírito natalício remete-nos para a responsabilidade para com todos estes, bem como para com aqueles que na nossa sociedade vivem em situação de maior vulnerabilidade: os imigrantes, os refugiados, os que vivem sós, os mais pobres.
Neste Natal renovemos a nossa fé e confiança naquele Deus que cumpriu a promessa de vir até nós para nos abrir caminhos novos de vida e de futuro. Ainda que no país e no mundo não faltem motivos de perplexidade e preocupação, deixemo-nos inspirar pelo autêntico espírito natalício que nos convida a olhar o divino e o humano de outra forma, com um olhar de fé e esperança. Jesus nasceu e veio caminhar na nossa história para sermos capazes de «caminhar juntos para renovar a esperança».
A todos os diocesanos de Vila Real, a todas as comunidades, aos jovens e às famílias, aos nossos emigrantes e aos imigrantes que vão chegando, aos que estão a passar por maiores dificuldades, a todos os homens e mulheres de boa vontade, desejo um Santo Natal cheio de bênçãos de Deus.
Vila Real, 13 de dezembro de 2023
+António Augusto de Oliveira Azevedo
Bispo de Vila Real