A equipa técnica da Delegação de Vila Real da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) está a receber formação para o Ensino de Orientação e Mobilidade, aproveitando o início de funções da nova Técnica de Reabilitação. A formação é ministrada por Peter Colwell, especialista em acessibilidades, orientação e mobilidade da Direção Nacional da ACAPO, e visa dotar os técnicos de competências para ajudar os utentes dos distritos de Vila Real e de Bragança na promoção da autonomia nas suas deslocações.
Carina Ferreira, diretora-técnica e psicóloga da delegação, informou que “a ação é dirigida não só à pessoa que exerce as funções de técnico de orientação e mobilidade, mas também à restante equipa, no sentido de todos desenvolvermos competências ao nível da deteção de necessidades, potencialidades e/ou limitações dos utentes, ficando, igualmente, mais atentos e sensíveis às questões da acessibilidade física dos espaços, antecipando as dificuldades dos utentes”. “Quanto mais conhecimento a equipa tiver, maior e melhor será a intervenção a realizar junto dos utentes e da comunidade”, referiu.
Já a nova técnica, Beatriz Carvalho, que confessou não ter experiência, até ao momento, na área da deficiência visual, considerou a formação “muito interessante”, pela perceção prática do uso da bengala e das dificuldades que as pessoas com deficiência visual lidam no seu dia a dia. “Esta formação vai colocar-nos em alerta para certas situações que, na teoria, não conseguíamos perceber”, reconheceu.
De referir que, durante a formação, os técnicos são desafiados a usar vendas de olhos, que lhes retiram a visão, e a utilizar a bengala branca na deslocação em alguns locais movimentados da cidade, como o Mercado Municipal, a Avenida Carvalho Araújo, etc.
Autonomia e orientação ao alcance de uma bengala branca
Ao NVR, Peter Colwell falou dos desafios que as pessoas com deficiência visual enfrentam na área da mobilidade e que é possível desenvolver a autonomia com a formação adequada, desde que estejam interessadas. “Quem tem muito receio em usar a bengala, em andar sozinho na rua, em transportes públicos, nem bate à nossa parte. As pessoas que chegam até nós, estão de facto interessadas em melhorar a sua autonomia e a aprender a usar a bengala, porque isso ajuda muito na mobilidade”, referiu o especialista.
A formação apenas se torna difícil quando, além da deficiência visual, estão associados outros problemas, como a falta de audição, dificuldades na locomoção, ou simplesmente porque não distinguem a esquerda da direita. “Uma pessoa que tem, ‘apenas’, deficiência visual, tem capacidade para aprender e deslocar-se de forma autónoma. Se têm essa necessidade e se quer ser independente, consegue aprender a circular sozinha. Algumas demoram alguns dias, outras semanas ou mesmo meses. Mas é possível”, sublinhou.
A dificuldade agrava-se nos casos de pessoas cegas que nunca foram incentivadas a uma vida autónoma e que, de repente, precisam de ser ajudadas. “Os casos mais difíceis são quando, por exemplo, os pais de uma pessoa cega fizeram muito pouco na promoção da sua independência e depois chegam até nós porque ela, de repente, vai para a universidade e quer andar sozinha na rua, usar o telemóvel, cozinhar, fazer uma vida autónoma”, lembrou.
Apesar dos desafios, Peter Colwell, que está, pela primeira vez, a dar formação em Vila Real, considera que a cidade está bem organizada em termos de trânsito, “não há carros estacionados em cima do passeio, as passadeiras estão sinalizadas com piso tátil e as pessoas costuma abrandar quando nos aproximamos para atravessar a estrada”. Lamentou, apenas, as subidas e descidas próprias desta cidade.
Filipe Ribeiro