Por: Manuel Igreja
Como diz a cantiga, um sucesso dos meus tempos de rapaz novo, dez anos são muito tempo, muitos dias a cantar a escrever e a sorrir. Também a chorar, mas isso são outros dizeres que não vêm aqui ao caso pois a edição é de festa.
O Notícias de Vila Real, jornal cá nossos em boa hora a fundado celebra o seu vigésimo quinto aniversário e não é coisa de somenos muito mais nos tempos que correm, em que tudo tende a durar menos, porque a pressa é o que interessa em dias de muito espuma com pouca ponderada informação. A nova de imediato vira coisa velha e sem interesse remetida para as gavetas das tralhas esquecidas.
O Notícias de Vila Real chegou-me ao conhecimento pouco depois de ter sido dado à estampa e desde logo me mereceu simpatia. Tive a noção ser obra de um mentor agradado e com muito agrado pelos assuntos da Imprensa Regional, setor tão menosprezado e esquecido no território mais interior deste nosso excelso país tão virado e paginado para o centralismo e para onde se ouvem as ondas do mar.
A páginas tantas deu por mim a ter o privilégio e o gosto de semanalmente lhe ocupar um canto com escritos cá muito meus, para obviamente disponibilizados para serem dele e por consequência de todos aqueles a aquelas que o percorrem com os olhos e lhe viram as folhas repletas de conteúdos diversos e importantes ao ponto de serem deveras interessantes.
Como jornal regional que é elaborado e completado com assuntos locais sem que lhe falte a visão abrangente e cosmopolita, cumpre bem o seu papel. Pensado e levando a pensar, sendo informado e informando, mostra e espalha opinião, fala-nos das malhas que a região tece, diz-nos o que acontece, dá-nos a conhecer pessoas e saberes, revela-nos teres e haveres, e indica-nos futuros pontuados com desejáveis aconteceres.
Neste nosso pequeno/grande em que as urbes já não têm largos para os cidadãos se juntarem, opinarem e ouvirem e serem ouvidos, a Imprensa Regional pode e deve ser esse espaço. Pode e deve ser um enorme ponto de confluência de ruas e de avenidas concretas ladeadas por canteiros semeados com as sementes da cidadania tonificada com a essência da identidade individual e coletiva.
Nestes nossos quotidianos vividos em dispersão, com os olhares meramente esguios para o que está ao lado, com os esforços egoisticamente virados para as funções do umbigo de cada qual, a Comunicação Social no seu todo e em todas as suas formas, deve ser acarinhada, cultivada com esteios suficientemente firmes para que cumpra o seu mister de instrumento de construção regiões sustentáveis com pessoas que exijam para lá do remedeio.
A nossa região não pode continuar a ser esvaziada. A nossa região tem de ser pensada, tem de semear e colher opinião. Tem de ser mostrada. Tem de fazer notar que não anda ao deus-dará. Tem de contribuir, mas tem de saber e conseguir exigir. Enfim, tem de saber fazer-se respeitar para ser respeitada. Tem de ser ela própria afirmada e afirmando-se em cada novo contexto e em cada nova realidade.
Para semelhante desiderato todos contamos e todos somos importantes ou mesmo até imprescindíveis. Individualmente temos vontade e saber. Coletivamente temos coisas de valor e coisas a valorizar. Temos potencial que baste, mas temos também injustiças sentidas e sofridas a mais com culpas alheias para sobejamente próprias essencialmente porque pouco nos importamos.
Urge que se mude sem que tudo fique na mesma. Nisso, o Notícias de Vila Real pode e dever ser de grande ajuda. Celebra um quarto de século de vida. Mostrou o que vale e vai continuar a mostrar. Merece os nossos parabéns. Impõe-se o desejo que dobre os anos de vida. Não sabemos como será então o mundo, mas ainda se há-de ler e tresler, pois isso já vem do fundo dos tempos.
Façam-se saltar as rolhas, parta-se o bolo e sopre-se nas velas. Acendam-se as luzes. As da ribalta e as outras. Todas pois nunca são bastantes.